Equidade racial no campo educacional

Diversos são os estudos e análises que chamam a atenção para como o racismo impacta o acesso, a permanência e a aprendizagem de estudantes negros, uma vez que ele se manifesta ao longo de toda a trajetória escolar, traduzido em práticas observáveis e que têm influência em elementos objetivos e subjetivos nos estudantes negros: a recusa ao toque no cabelo pelos professores; as baixas expectativas dos docentes em relação a alunos negros; os desafios na relação com os colegas de sala; a diferenciação nas expectativas e tempo que os educadores dedicam a crianças negras (algumas pesquisas mostram que é menor para alunos negros do que para brancos); e assim por diante. Dessa forma, quando se aborda o tema da aprendizagem neste contexto, o que está em jogo não são as capacidades ou possibilidades de negros no sistema educacional, mas sim as diferenças de condições e tratamentos que impactam sua trajetória de desenvolvimento cognitivo e valorativo.

Reconhecer a escola como espaço de conflito é importante no debate educacional do ponto de vista da equidade racial e, sobretudo, para se pensar em possibilidades de transformação dessa realidade. Nesse sentido, é fundamental trabalhar a gestão da diversidade no cotidiano escolar, o que pressupõe uma nova cultura organizacional voltada à valorização da diversidade nas dinâmicas de convivência e a aprendizagem de todos os estudantes.

Dentre os investidores sociais privados brasileiros, a educação é a principal área de atuação – 80% deles realizam ações nesse campo, seja por meio de projetos próprios (61%) ou apoiando projetos executados por terceiros (39%) (Censo GIFE 2018) –, o que revela um amplo campo de oportunidade para inclusão do olhar para o tema da equidade racial como eixo das estratégias de atuação na área da educação. 

Buscando contribuir com a meta 8 do Plano Nacional de Educação (PNE), que declara o objetivo de igualar a escolaridade média entre negros e não negros, é possível desenvolver uma agenda voltada à equidade racial na educação de diferentes formas:

Ampliação da participação da comunidade escolar no processo de tomada de decisões em todos os níveis do sistema educacional

Dar voz à diferença e respeitar a diversidade cultural e regional das instituições na definição de prioridades educacionais, fortalecendo uma perspectiva de gestão democrática na educação. Para tal, é possível realizar ações de diferentes tipos:

Formações, assessorias e outras formas de qualificação da gestão escolar e dos docentes, com foco na valorização da diversidade e na equidade racial.

Apoio para elaboração e implementação de projetos educacionais institucionais que contemplem a atenção à diversidade – esta estratégia pode ser concretizada por meio de editais, prêmios, selos, etc.

Apoio a iniciativas de ampliação e fortalecimento da participação dos movimentos juvenis negros, para que esses grupos ocupem um espaço de questionamento sobre as relações e conhecimentos priorizados pela escola (debate sobre currículo, abordagens pedagógicas, relação professor-alunos, etc.).

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“Os jovens estão pedindo mais, querem o alargamento de saberes. Novas formas, novas linguagens para acessar e lidar com os conteúdos curriculares. Uma perspectiva de maior agenda de participação desse jovem, sair de um modelo que ainda pressupõe o estudante como passivo diante de um saber. Os jovens estão nos ensinando uma pedagogia do movimento, que passa pela estética, pelo empoderamento, uma apropriação de um discurso característico da juventude na interação com os conhecimentos ditos formais.”

Macaé Evaristo – Secretária de Educação de Minas Gerais

Desenvolvimento de ferramentas que apoiem o olhar da gestão escolar e corpo docente para o tema da equidade racial

Os investidores sociais privados podem desenvolver metodologias, indicadores e tecnologias que apoiem o diagnóstico e atuação das escolas voltados às questões raciais.

Desenvolvimento de agenda de pesquisa e produção de conhecimento com foco em equidade racial

Apoio a pesquisas acadêmicas e aplicadas voltadas à identificação de mecanismos institucionais que trazem desafios para a garantia da equidade racial na escola. Nessa linha, têm valor pesquisas com proposta mais global, que, baseadas em uma concepção da escola como espaço de conflito e em uma perspectiva interseccional, estejam interessadas em identificar formas de construção da escola enquanto espaço de equidade.

inspire-se!

Conheça iniciativas da filantropia e do ISP relacionadas a esta linha de atuação:

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