Equidade racial no mundo corporativo

Um grande campo de discussão no tema de equidade racial é o mundo do trabalho. Se, por um lado, a história do negro e do trabalho no Brasil se confundem – considerando-se que, dos 500 anos de história do país, vivemos 400 anos de escravidão institucionalizada –, por outro, o espaço social destinado a profissionais negros no mercado de trabalho é bastante restrito, tanto no que se refere a questões objetivas – como dificuldades de contratação ou de ocupação de cargos mais altos, diferenças salariais, etc. – como subjetivas – diferenças de tratamentos, investimentos em formação, relações sociais no ambiente de trabalho, etc. Os códigos invisíveis que circulam no mundo do trabalho levam à anulação da identidade negra e a uma dinâmica de “embranquecimento” dos costumes e formas de comportamento e relacionamento.

Diante desse cenário, crescentemente, a gestão da diversidade é uma preocupação presente nas empresas. Além de ações para garantir o acesso de profissionais negros a essas instituições (por exemplo, por meio de políticas afirmativas de contratação), é preciso pensar e atuar para garantir a qualidade desse acesso – com foco nos relacionamentos e nos processos de aprendizagem e progressão na carreira.

No Brasil, a atenção das empresas às questões raciais costuma se dar como resposta a pressões externas, como constrangimento em função de episódios racistas que as empresas tenham vivenciado, mas são poucas as experiências de iniciativas espontâneas, em que as instituições voluntariamente decidam implementar políticas voltadas à equidade racial.

O principal desafio no mundo do trabalho é desconstruir dinâmicas excludentes que já estão enraizadas na cultura e nos processos organizacionais. As pessoas que ocupam os espaços de poder, em sua maioria, são brancas e as questões raciais dificilmente se tornam prioritárias nas agendas das empresas. Além disso, implementar ações nesse sentido implica repensar os espaços de privilégio e exclusão dos diferentes grupos.

As organizações do ISP podem desenvolver algumas iniciativas que busquem contribuir para relações mais equitativas no mundo corporativo, por um lado, preparando os profissionais negros para que se insiram nele de modo efetivo e qualificado e, por outro, influenciando as empresas para que implementem políticas com atenção às questões raciais. Algumas estratégias que podem ser desenvolvidas são:

Programas que preparem as pessoas negras para o mercado de trabalho

Além de formação técnica, é importante que os profissionais negros aprendam os códigos institucionais e políticos que circulam nos ambientes profissionais.

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“Nenhum tema avança se você não construir de forma compartilhada. No mundo empresarial, essa indução tem que ser de cima para baixo, diferente da lógica de movimento social, porque se for de baixo para cima gera demissão.”

Cida Bento – CEERT

Mapeamento, sistematização e disseminação de boas práticas

Compartilhar iniciativas qualificadas que vêm sendo protagonizadas pelas empresas no campo da equidade racial pode ter um importante papel de inspirar outras empresas para o tema, além de fornecer a elas subsídios concretos para que avancem em suas práticas internas.

Criação e disseminação de ferramentas que ajudem as empresas a olharem para as questões raciais

E desenvolverem estratégias, políticas e processos para que elas sejam incorporadas nas práticas das corporações.

inspire-se!

Conheça iniciativas da filantropia e do ISP relacionadas a esta linha de atuação:

Pacto de Promoção da Equidade Racial

Com o objetivo de trazer o mundo corporativo para o debate sobre equidade racial, foi lançado em 2021 o Pacto de Promoção da Equidade Racial, uma iniciativa que busca atrair a atenção de grandes empresas nacionais e multinacionais e da sociedade civil para o tema, por...

Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero

Criada por uma articulação entre o Instituto Ethos, o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) e o Institute for Human Rights and Business (IHRB), com o apoio do Movimento Mulher 360 e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e...